Considero de extrema pobreza quando pergunto a alguém por que não quer fazer, ou dizer algo, e recebo como resposta um paupérrimo e imbecil: “ porque não quero”.
Quem já teve a oportunidade de ler “Entre os muros da escola” — romance de François Bégaudeau , autobiográfico, que originou o filme de Laurente Cantet , Palma de Ouro no Festival de Cannes no ano passado e que já vendeu 170 mil exemplares na França — percebe claramente que entre os alunos da periferia de Paris e os nossos — mundos aparentemente tão díspares — é sempre importante ter dos adultos um porquê de suas convicções, idéias, orientações, sugestões, propostas, forma de viver e de educar.
Quem não sabe dizer o porquê das coisas que faz ou diz, com certeza não sabe educar para um mundo que exige, mais do que nunca , que saibamos dizer aos nossos filhos o objetivo e o porquê da existência humana e suas necessidades e consequências, mesmo que esse objetivo seja baseado em conceitos religiosos , filosóficos, pessoais, sem, na maioria das vezes, um princípio comprovado de verdade, tendo em vista que toda verdade é relativa.
Não quero porque não quero, não faço porque não faço é uma posição mesquinha e autoritária de quem não questiona as próprias decisões e busca impor aos que o rodeiam uma forma de relação em que não importam os motivos do grupo, mesmo que estes tenham como objetivo o bem comum, ou ainda, é a postura de quem tem medo de expor a própria ignorância ao tentar justificar uma resposta própria de crianças em tenra idade.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO