PENSAR E ESCREVER É ARRISCADO

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“ Odeio o coito quando não é mútua a desvairada entrega dos amantes”

Ovídio  (43 a.C  – 17 d.C )
Os mantenedores de uma  escola do Rio de Janeiro demitiram um professor  do Ensino Fundamental pelo simples motivo de que, segundo o estabelecimento de ensino que tem como lema “Uma escola que estimula a expansão cultural “,  recebeu informações de psicólogos e juristas condenando a combinação de professor e escritor em uma só pessoa.
O poeta e professor de Literatura,  em questão, lecionava para turmas de 7º. e 8º. anos,  é formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica, obteve título de Mestre na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, com a  dissertação “Erotismo e Gramática, Índices da Defloração – Uma Leitura de Manoel de Barros” , de 1992.
Nada consta do corpo da notícia,  no sentido de que o professor tivesse, em algum momento, pedido aos seus jovens alunos que entrassem em seu blog ou lessem seus poemas.
Concluo que algum pai, ao buscar no Google, madrugada adentro, sites eróticos, tenha descoberto o  blog literário  do professor Oswaldo Martins Teixeira e, desconhecendo as obras de Aretino e Giulio Romano, resolveu, denunciar o mestre, acusando-o de sacanagem.
Como esse pai não deve ter lido  o Cântico dos Cânticos (Bíblia) e nem  Arte de Amar ( de Ovídio) mas paga R$ 1.161,00 de mensalidade — nessa escola “moderna” e construtivista, porém refém de pais obtusos, cujo maior argumento diante da direção das escolas particulares é a quantidade de grana na conta bancária — achou-se no direito de pressionar a direção e exigir a demissão do poeta que, infelizmente, precisa dar aulas para sobreviver.
E o pior é que, em geral, não há debate com esse tipo de pais que, de forma covarde, buscam diretamente a direção, fugindo de qualquer possibilidade de um diálogo racional e inteligente com os acusados, e exigindo posturas nazi-fascistas dos mantenedores das escolas particulares: aliás é sintomático a diretora desse colégio estar na Alemanha, enquanto os demais responsáveis não se pronunciaram, e uma funcionária da secretaria desdenhou: “O que é que um jornal tem a ver com essa história ( da demissão)?
As tentativas de interferência de alguns pais, no quotidiano da vida escolar, é uma constante: querem discutir normas disciplinares —  em princípio, aceitas por eles no ato da matrícula — aplicadas aos seus filhos, escolher qual o professor que acompanhará excursões, modificar os critérios de avaliação, questionar obras literárias adotadas — em geral com posturas obscurantistas, dignas de censores paridos em  republiquetas sulamericanas.
Por isso, oremos, professores poetas , para que possamos, sempre,  trabalhar com mantenedores cultos, democráticos  e esclarecidos.

 

ANTONIO CARLOS TÓRTORO

 

 

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