TUMUCUMAQUE DE PRESENTE

“Diante dessas paisagens de predileção, tudo se passa como se eu estivesse certo de aí ter  estado ou de aí dever ir”

Roland Barthes
Leonino de último dia, recebi um livro de fotos belíssimas, presentão de aniversário do meu Banco, o Citibank: Expedição Tumucumaque – a redescoberta da Amazônia.
Com extremo bom gosto e requinte, ele nos apresenta imagens de rara beleza , clicadas por Zig Koch, convidado  pelo WWF-Brasil , especialmente para a viagem que deu origem às fotos. Fotógrafo profissional desde 1986, Koch fotografa para as principais revistas brasileiras. Com freqüência, suas imagens são selecionadas para ilustrar campanhas de educação ambiental, coordenadas por entidades governamentais e não-governamentais.
A WWF-Brasil é uma organização 100% nacional, autônoma e sem fins lucrativos e que, em parceria com os Cartões de Crédito Citi, e com participação do Ibama, conseguiram trazer para o meu convívio toda a variedade de cores, luzes, texturas, sons e fantasias de um espaço que corre o risco de ser destruído pela falta de sensibilidade do ser humano.
Num exercício mágico, repousei à sombra de árvores samaúmas, às margens das curvas do rio Jari; encarei saudáveis onças-pintadas, jaguatiricas e gatos-do-mato; dormi em escritórios flutuantes no rio Cuc, protegido dos ataques das jararacas; cobri meu corpo com a maquiagem protetora do urucum, junto dos Waiãpi, nas terras delimitadas pelos meandros dos rios Oiapoque, Jari e Amapari; dei de comer ao mutum de bico amarelo e ao anacã, atrevido, de cores exuberantes; embebi-me do som ruidoso das corredeiras do rio Inipuku;  acordei com os patos-do-mato, garças-reais, micos-de-cheiro e coatis; proseei com o proeiro conduzindo o batelão; tomei banhos refrescantes com ariranhas e pirararas ; cheirei a flor da anhinga e assustei o  louva-a-deus e a libélula com meu gesto; venci os obstáculos naturais da cachoeira do Desespero, que faz jus ao nome ; cheguei  à Montanha da Tríplice Fronteira , localizada entre o Brasil, a Guiana Francesa e o Suriname e do alto das inselbergs , formações graníticas do tipo “Pão de Açúcar”, pude sentir a grandeza imensurável e indescritível do Grande Arquiteto do Universo.
Enfim , embarquei prazerosamente numa fascinante viagem, um espetáculo repleto de vida e cores que só a natureza pode nos oferecer.
Sonhei um sonho de quase 800 quilômetros, transpus dezenas de cachoeiras e corredeiras que encharcaram  as mais de cem páginas de um documento que cumpre o seu objetivo de conscientizar as pessoas da importância de preservarmos nossa Amazônia e  nosso planeta.
Depois, dormi sob o manto de milhões de estrelas, aquecido por providenciais fogueiras que se destacavam no fundo negro  da densa floresta que cerca o alojamento cedido pelos moradores Zé Maria e Madalena, em um dos pontos mais isolados do parque : Molocopote.
E, no dia seguinte, acordei esperançoso de poder, um dia, receber, de presente, a certeza de que a Amazônia será definitivamente nossa, e preservada, e que nossos filhos e netos não terão que recorrer às fotos de Koch para conhecer uma das maravilhas da criação divina.

 

ANTONIO CARLOS TÓRTORO

 

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