No título desse artigo está a pergunta que me foi feita por uma mãe de aluno que havia sido retido por um Conselho de Classe do qual participei nesse final de ano.
Eu poderia ter dado a ela, naquele momento, uma resposta tradicional:
“No final de cada ano letivo, uma das funções do Conselho de Classe é realizar uma reunião avaliativa em que diversos especialistas envolvidos no processo ensino-aprendizagem discutem acerca da aprovação ou não de cada aluno que não obteve média suficiente para ser promovido no processo de aprendizagem, o desempenho dele no decorrer do ano letivo nas atividades de casa e de sala de aula, o crescimento ou não de suas notas nas avaliações por bimestres e semestres, o resultado obtido por ele nas recuperações (bimestrais, semestrais, final), a frequência nas aulas e a participação nas atividades desenvolvidas durante o ano letivo”.
Dessa forma eu teria fornecido à mãe uma imagem que eu poderia dizer, física, concreta, das atividades que durante duas, três, quatro horas, resultaram numa relação de aprovados e retidos a ser divulgada aos pais e responsáveis.
A etapa complementar desse processo é o atendimento, feito por um Orientador Educacional, que participou dop Conselho e acompanhou o dia a dia de cada um dos alunos, explicitar junto aos pais ou responsáveis, os motivos que levaram , principalmente, às retenções.
Mas essa explicação não deixaria claro para a mãe a complexidade das ações que culminaram com as decisões do Conselho ao final do ano letivo.
Primeiramente o Conselho de Classe, enquanto instrumento de avaliação, teve que trabalhar o ano todo para que os alunos tenham sido constantemente observados pelos professores e demais especialistas que compõem os profissionais da instituição de ensino. Para isso, a avaliação teve que ser cotidiana, pois todo o dia, toda a semana, até o final do semestre ou ano, cada aluno teve que ser percebido pelos professores que trabalharam com ele. Ao observar, diagnosticar e registrar, saberes tiveram que ser extraídos sobre cada aluno de forma a enquadrá-lo dentro de uma determinada categoria de desenvolvimento que define alvos a serem alcançados por todos.
Por outro lado a equipe pedagógica teve, no dia a dia, que ter em mente os alvos educacionais a serem desenvolvidos e avaliados no processo de aprendizagem dos alunos. Deverá estar constantemente tendo em vista que esses alvos devem abranger atitudes de participação, respeito e responsabilidade; construção de conhecimento e apreensão de conteúdos e conceitos; e formação do caráter e da cidadania.
Nesta prática avaliativa, cada aluno deverá ter sido visto individualmente, em suas singularidades de comportamentos, aprendizagens e histórias particulares.
O Conselho de Classe, para cumprir sua função, exigiu dos professores um olhar cotidiano detalhado sobre cada indivíduo para que, durante a reunião, pudessem contar, explicar, lembrar e definir, a partir daquilo que observaram e obtiveram como informação sobre a aprendizagem, o desenvolvimento e a história de vida de cada aluno, assim como refletir sobre se o tipo de progressão adequada para cada um deles foi aplicado.
Enfim todo um trabalho realizado durante as duzentas semanas prevista em lei exigiram de cada membro do Conselho de Classe conhecer o nível de desempenho inicial do aluno com dados obtidos e discutidos no início do ano, saber, comparativamente (fase inicial e final) se houve ou não, e em que quantidade, o nível de desempenho de cada aluno e, finalmente, saber mudar ou não as práticas educativas aplicadas.
Com tudo isso em jogo, com o futuro da vida de cada aluno e de cada família em questão, não é possível ter pressa na discussão de cada caso em particular, é preciso que cada docente tenha muita maturidade, muito profissionalismo, muita dedicação, muita responsabilidade, muito amor à verdade e senso crítico. No trabalho final de um Conselho de Classe não há espaço para desejo de revanche contra pais ou alunos, não pode haver preconceito, não pode haver falta de informação porque a sorte, naquele momento, estará lançada e todo um ano letivo de centenas de adolescentes poderá ser jogado fora, ou não.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
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