“Quando se trata de enganar, o uso de números é a ferramenta mais eficaz para manipular o público”.
Charles Seife – no livro “Os Números (Não) Mentem
Todo início de ano recebo a visita de pais que desejam conhecer o colégio em que seus filhos passarão grande parte do tempo e da vida: isso é muito bom.
No colégio em que trabalho buscamos formar cidadãos generosos, tolerantes, ousados, disciplinados, indagadores, carismáticos, empáticos, sonhadores, além de usarmos um material didático-pedagógico que aprova milhares de centenas de jovens a cada final de ano letivo, em todo o Brasil.
Mas existem pais que se apegam, vitimas do poder convincente da mídia e da estatística — apesar de que todos deveríamos saber que a estatística não mente, mas você pode mentir usando a estatística — aos resultados do Enem – Exame Nacional do Ensino Médio.
E aí fica difícil tentar convencê-los que existem outros parâmetros, além dos fornecidos pelo Enem, a serem refletidos quando tratamos de sucesso profissional.
Se eu, profissional de Educação, tentar minimizar os resultados do Enem ( na escolha, ou não, que os pais farão de um determinado Colégio para seus filhos) e conseguir fazer com que os pais me ouçam sobre o trabalho desenvolvido pelo Colégio em que trabalho, e com isso justificar que o meu Colégio é o melhor para o filho dele, possivelmente ficará parecendo que estou puxando a brasa para minha sardinha.
Então, com a palavra sobre o assunto, dois professores que não trabalham no meu Colégio.
O professor pernambucano Nílson Machado, professor da Universidade de São Paulo (USP), fez parte, em 1997, do grupo formado por quase 50 pessoas que criou o Enem. Hoje, 16 anos depois, Nílson, que é doutor em filosofia, critica o quadro de classificação de escolas feito a partir dos resultados do Exame. “O Enem não é uma prova com sensibilidade para, num universo de, digamos, 20 mil escolas, dizer quem é a primeira, quem é a segunda, quem é a terceira, não dá. Por várias características do exame: é optativo, nem todos os alunos fazem, há escolas que fomentam para os bons alunos fazerem, outros não. Há muitos artifícios. Uma avaliação mais justa das escolas seria fazer a relação dos alunos que ela aprova no vestibular e, desses alunos que passam, os que se formam no final do curso”, afirma.
Por outro lado, Augusto Cury, psiquiatra, psicoterapeuta, cientista e escritor, com mais de 35 livros publicados em mais de 70 países e que vendeu 22 milhões de exemplares somente no Brasil diz : Tenho dito que os Ministérios da Educação e Cultura dos mais diversos países estão errados ao avaliar um aluno pela assertividade nas provas. As provas devem ser avaliadas não apenas pela repetitividade dos dados, mas também pela inventividade dos alunos, raciocínio esquemático, ousadia. E, além disso, se quisermos formar pensadores, um aluno deveria ser avaliado fora do espaço das provas pela sua interatividade, altruísmo, proatividade, debate de idéias, discurso do pensamento, cooperação social durante as aulas. São esses os elementos que determinarão o sucesso nas provas da existência, muito mais do que seu acerto nas provas escolares.
Enfim — como não sabemos e não queremos utilizar os muitos artifícios mencionados pelo professor Nilson Machado — quando sou procurado por um pai ou responsável, cujo único motivo ( ou o principal) para escolher um Colégio para seu filho é o resultado do Enem, já sei com quem estou falando: com alguém que não está, prioritariamente, preocupado com o presente e o futuro socioemocional dos seus filhos, bem como da própria humanidade.
Que o diga Augusto Cury.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br