1Q84: UM VIRA-PÁGINAS DE PRIMEIRA
“É impossível parar de lê-lo até seu desfecho”.
Joça Reiners Terron
Li o livro de Haruki Murakami, 1Q84 — 430 páginas, da Editora Alfaguara, primeiro volume de três — numa tacada só: esse é o motivo do título deste artigo.
Por coincidência eu estava na Praia Grande, mas preocupado com sérios problemas que não havia conseguido deixar resolvidos em Ribeirão Preto. Dois mundos: um de sonho, à beira-mar, e outro terrivelmente real vivido pelos meus pais idosos. Por seis dias vivi em dois mundos, assim como os personagens de 1Q84: “1Q84 — É assim que vou chamar esse mundo novo”, decidiu Aomame. “Com a letra ‘Q’ , de Question Mark, um ‘quê’ de dúvida, de interrogação.”
Três motivos principais me levaram a gostar bastante de 1Q84.
Primeiro: identifiquei-me com Tengo por eu — da mesma forma que ele — ser professor de Matemática — a música de Bach, O cravo bem temperado, levava-o a pensar em uma Progressão Aritmética — e escritor. Como ele, mudar da Matemática para a Literatura é, para mim, como “mudar a chave de um circuito naturalmente, sem nenhum esforço. Ele sabia que, de uma forma ou de outra, essas mudanças eram necessárias”.
Segundo: encantei-me com as mulheres de Haruki. Tanto Aomame (assassina feminista cuja maior arma são os certeiros chutes nos testículos: “A parte vulnerável do adversário deve ser acertada sem compaixão, com velocidade de um raio ) quanto Fukaeri ( a jovem escritora de dezessete anos que tem ) são — eu poderia dizer — verdadeiros tesões. Como afirma um comentarista da revista Playboy (Nov/12) : “As trepadas de 1Q84 não chegam a ser sexy, mas são bastante divertidas. Aomame, dotada de libido samaritano, cure cinqüentões carecas. Isso sem falar na policial Ayumi, companheira de Aomame em uma orgia da qual participaram dois casais que se conheceram em um bar, e em Tamaki Ôtsuka — os bicos dos seios de Tamaki de repente ficaram duros…os tímpanos tocavam uma sequência de sons de difícil execução na Sinfonietta de Janácek.
Terceiro: estou curioso para saber mais sobre o Povo Pequenino, de Crisálida de ar; os Guiliaks; o significado das duas luas, o segredo que esconde o grupo denominado Sakigake e sobre muitos outros pontos da obra desse escritor japonês cujo título remete a 1984, livro de George Orwell, do qual se originou a figura do “Big Brother” — na Globo teve início recentemente o BBB 15 — e que reúne em sua narrativa mistério, seitas secretas, amor, sexo, mistura de literatura policial, realismo fantástico e romances açucarados.
Em resumo, no livro 1Q84, que ultrapassou a marca de 4 milhões de exemplares vendidos só no Japão: “O ano é 1984; a cidade é Tóquio. Aomame está num táxi, parado no trânsito de uma via expressa. Ela tem um encontro com hora marcada e teme perdê-lo. O motorista, após uma conversa incomum, oferece uma opção: descer por uma escada de emergência em plena avenida. Aomame segue sua sugestão e, aos poucos, irá descobrir que, de alguma forma, passou a um mundo distinto, que aos poucos se revela.Em paralelo, Tendo, um aspirante a escritor, se envolve em um misterioso projeto de refazer o romance de uma menina de 17 anos, Crisálida de ar, que é um livro fantasioso, enigmático, mas o que ela narra pode estar, de fato, acontecendo — e suas conseqüências estão prestes a ser percebidas”.
Enfim, lerei o segundo e o terceiro volumes dessa obra, tomando, se possível, um Tom Collins (Gim, suco de limão e soda), ouvindo a Sinfonietta de Janácek ou O cravo bem temperado de Bach, e deixando-me envolver no entrelaçamento de duas histórias incríveis, um épico contemporâneo, uma trilogia que desafia os limites do real, uma obra vibrante.
Isso porque “Murakami é um gênio” :Chicago Tribune.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
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