LI E GOSTEI: ÁGUA PARA ELEFANTES

ÁGUA PARA ELEFANTES: E POR FALAR EM MENTIRAS….

“Eu costumava levar água para os elefantes “

McGuinty

Se alguém disser que trabalhou num circo levando água para elefantes: é mentira.
Se alguém disser que a vida de circo é somente glamour: é mentira.
Se alguém disser que a vida é o maior espetáculo da Terra: é mentira.
Se alguém disser que ser idoso é viver na melhor idade: é mentira.
Pois vejamos o que nos diz sobre isso Jacob Jankowski, um idoso com a mesma idade de meu pai, e com os mesmos questionamentos:
“Ser sobrevivente é uma droga.
Eu achava que preferia envelhecer à outra opção, mas agora já não tenho tanta certeza. Às vezes, a monotonia dos bingos, dos saraus e dessa gente antiga e embolorada, estacionada no corredor em suas cadeiras de rodas, me faz desejar a morte. Principalmente quando me lembro de que sou um deles, jogado de lado como se fosse uma quinquilharia inútil.
Mas não há nada que se possa fazer em relação a isso. Só me resta passar o tempo esperando o inevitável, observando os fantasmas do meu passado se agitarem em volta do meu presente insignificante. Eles se chocam e se esbarram à vontade, principalmente por não haver nenhuma resistência. Parei de lutar contra eles.
Nesse momento, eles estão se agitando ao meu redor.
Sintam-se à vontade, rapazes. Fiquem mais um pouco. Ah, desculpem — vocês já estão à vontade.
Malditos fantasmas! “.
Tio Al, o empresário; August, o chefe do setor de animais; Marlena , esposa de August; Rosie, a elefanta; Camel, Grady, Bill, Blackie, Joe Maluco, Ezra, Cecil, Lucinda, Franz Otto, Jimmy, Wade, Bárbara, Earl, Kinko, Queenie, o cãozinho: são somente os mesmo personagens — com nomes trocados — que nos rodeiam no nosso dia a dia.
O circo é o espaço que nos abriga ou prende: a nossa residência, a escola ou a faculdade, o local de trabalho, o clube recreativo, o hospital, as instituições que freqüentamos.
O tempo é de dificuldades — Quebra da Bolsa, década de trinta — até parece nossos atuais dias em que não vemos luz no fim do túnel.
E “ a idade é um ladrão terrível. Justamente quando se começa a entender melhor a vida, a idade nocauteia suas pernas e arqueia suas costas. Ela lhe traz dores, lhe confunde a cabeça e silenciosamente espalha o câncer em sua esposa”.
Enfim, a vida é um circo, com suas surpresas e aberrações, parecido com o circo dos Irmãos Benzini ou o Ringling que Sara Gruen criou no livro Água para elefantes.
Eis um breve resumo da obra fala de vida e morte.
Desde que perdeu sua esposa, Jacob Jankowski vive numa casa de repouso, cercado por senhoras simpáticas, enfermeiras solícitas e fantasmas do passado. Durante 70 anos Jacob guardou um segredo: nunca falou a ninguém sobre o período de sua juventude em que trabalhou no circo. Até agora.
Aos 23 anos, Jacob era um estudante de veterinária, mas teve sua vida transformada após a morte de seus pais num acidente de carro. Órfão, sem dinheiro e sem ter para onde ir, ele deixa a faculdade antes de fazer as provas finais e, desesperado, acaba pulando em um trem em movimento, o Esquadrão Voador do circo Irmãos Benzini, o Maior Espetáculo da Terra.
Admitido para cuidar dos animais, Jacob sofrerá nas mãos do Tio Al, o empresário tirano do circo, e de August, o ora encantador, ora intratável chefe do setor dos animais.
É também sob as lonas que ele se apaixona duas vezes: primeiro por Marlena, a bela estrela do número dos cavalos e esposa de August; e depois por Rosie, a elefanta aparentemente estúpida que deveria ser a salvação do circo.
Água para elefantes é tão envolvente que seus personagens continuam vivos muito depois de termos virado a última página com Charlie O’Brien.
Sara Gruen nos transporta a um mundo misterioso, encantador e perigoso, construído com tamanha riqueza de detalhes que é quase possível respirar sua atmosfera, sempre à espera do momento em que ouviremos a Marcha Fatídica, um sinal de que teremos que nos retirar dessa grande mentira que é a vida.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

ARTIGOS, Li e gostei, LITERATURA