ENFERMEIROS(AS): ANJOS OU DEMÔNIOS ?

ENFERMEIRA“Envelhecimento: uma lembrança impiedosa da inevitabilidade da morte”.

Leonidas Donskis

Recentemente tenho convivido mais com enfermeiros e enfermeiras do que eu gostaria.
Nada contra a categoria profissional, muito pelo contrário.
O motivo é óbvio: o que para nós — adultos jovens e saudáveis — são problemas, para eles são simplesmente formas de prestar serviço ao próximo e fonte de renda.
Mas vamos ao que interessa.
Alguns profissionais dessa área não nasceram para exercê-la: estão mais para Josef Mengele — Mengele foi oficial médico chefe da principal enfermaria do campo de Birkenau, que era parte do complexo Auschwitz-Birkenau. Foi um médico alemão que se tornou conhecido por ter atuado durante o regime nazista. O apelido de Mengele era Beppo, mas ele era conhecido como Todesengel, “O Anjo da Morte”, no campo de concentração —
do que para São João de Deus — Patrono dos enfermeiros, São João de Deus nasceu a 8 de Março em Montemor, no Alentejo, em 1495, e faleceu em 1550, em Granada, no dia do seu Aniversário.
Justificando.
Meu velho pai, falecido recentemente no quarto 603 da Santa Casa de Misericórdia, foi, durante seis dias, rodeado de toda a atenção possível de médicos e enfermeiras. Mas como nada é perfeito, durante um dos plantões — foi quando percebi que existem plantonistas e plantonistas — pedi a uma das enfermeiras que fizessem uma troca de fraldão porque meu pai havia defecado e urinado, e já sofria muito com assaduras. Feito o pedido, esperei por uns vinte minutos. Uma acompanhante de outro paciente ao lado alertou-me: se você não ficar lá, parado, olhando para ela ( a enfermeira) ela não virá fazer a troca tão cedo.
Resolvi então voltar ao local onde se reúnem médicos e enfermeiras, e pedi a um enfermeiro que estava no local, debruçado sobre uma planilha, e fiz novamente o pedido, explicando, educadamente, a situação.
Foi então que o “Yul Brynner” tupiniquim, desviou, displicente o olhar para uma tabela fixada na parede ao seu lado e disse: é o senhor Claudio do 603-4 ? Aguarde que quando eu for trocar os medicamentos faremos a troca do fraldão.
Retirei-me, porque não faz meu gênero ficar encarando macho — como havia sido orientado pela minha amiga acompanhante — e esperei ao lado da cama do meu velho, que viria a falecer no dia seguinte, por mais uns trinta minutos: e nada de ser feita a troca de fraldas apesar de ter o “ajudante de Mengele” ter entrado no nosso quarto por duas vezes após meu pedido e nem ter olhado para o meu lado.
Então, tive que ir embora muito aborrecido, pois meu pai já estava suficientemente atormentado pelos efeitos da pneumonia e de uma infecção de causa desconhecida.
Já na Casa da Amizade eu e minha irmã temos convivido com anjos, enfermeiras das quais São João de Deus se orgulharia, como Ana Paula, Bruna e outras, por exemplo.
No livro Cegueira Moral , Zygmunt Bauman, grande pensador da modernidade, diz: “ A variedade líquida moderna de adiaforização é moldada segundo o padrão das relações consumidor-mercadoria, e sua eficácia baseia-se no transplante desses padrões para as relações humanas” , ou seja, algumas pessoas tratam seres humanos como coisas, objetos descartáveis, sem sentimentos. Embora uma atitude consumista possa lubrificar as rodas da economia, ela joga poeira nos vagões da moralidade
É preciso lembrar sempre àqueles que lidam com as dores e sofrimentos de seres humanos que: “Deus morre quando se eliminam os laços humanos — uma benção por podermos ter confiança numa pessoa e se sentir capaz de fazer algo por ela — e sociais” – Houellebecq

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

ARL- ACADEMIA RIBEIRÃOPRETANA DE LETRAS, ARTIGOS, LITERATURA