IGREJA DO DIABO E O POLITICAMENTE CORRETO.
Que queres tu ? É a eterna contradição humana.
Machado de Assis
Acabo de ler,– Guia politicamente incorreto da filosofia – Ensaio de ironia, de Luiz Felipe Ponde, livro que me fez lembrar o conto A igreja do Diabo, de Machado de Assis: em ambos os casos, tudo fruto da eterna contradição humana.
Quanto ao o que é o politicamente correto, com a palavra Theodore Darlrymple : “Não é fácil definir o politicamente correto com precisão, mas é fácil de reconhecer quanto está presente. Ele age em mim como o som, de quando eu era criança, da unha de um professor arranhando a lousa porque seu giz era muito pequeno: isso me dava arrepios na espinha”.
Guia politicamente incorreto da filosofia é um livro polêmico, que deveria ser lido por uma maioria de pessoas — idiotas com a consciência de seu poder numérico, como dizia o sábio Nelson Rodrigues — que manifestam suas opiniões no Facebook , porque é um livro — a confissão de um pecador irônico a respeito de uma mentira moral: o politicamente correto — movido por uma intenção específica: ser desagradável para um tipo específico de pessoa.
Ponde , ao final do livro, resume : “ A praga PC ( Politicamente Correto) usa métodos de coerção institucional e de assédio moral, visando calar todo mundo que discorda dela, antes de tudo, tentando fazer dessas pessoas monstros e, por fim, tentando inviabilizar o comércio livre de ideias. Ideias não são sempre coisas “boas. Às vezes doem”.
Ao final, a praga PC é apenas mais uma forma enraivecida de recusar a idade adulta e de aniquilar a inteligência. O que ela mais teme é a coragem. Por isso, diz que o povo é lindo —“Só mentirosos e ignorantes têm orgasmos políticos com o “povo” — quando não é, diz que as mulheres estão bem sozinhas — “… a mulher fica só imersa numa personagem que na realidade não existe: a mulher que não “precisa” de um keeper e que acaba sendo apenas a velha e comum mulher fácil de transar. E caidinha …” —, quando não estão (estavam mal acompanhadas e agora estão pior sozinhas, porque a humanidade é basicamente infeliz e incoerente com relação aos desejos e às expectativas), diz que a natureza é uma mãe quando ela é mais Medeia — “ Basta ver o canal Discovery para perceber que não existe a natureza politicamente correta, ela é o oposto dessa praga” —, nos proíbe de reclamar de gente brega ao nosso redor — “ Estou voando, na classe executiva, não suportaria estar numa classe econômica, um galinheiro de gente – o futuro do mundo é ser brega — , mente sobre aqueles que lutaram contra a ditadura ( eles não eram muito melhores do que os torturadores se tivessem a chance de torturar alguém), nega a importância da culpa — o fato é que todo mundo gosta de ouvir que é bom e que os outros é que o fazem ser mau e infeliz — porque é mau-caráter, enfim, não é capaz de reconhecer valor em nada porque nega a própria capacidade humana de fazer discernimento.
A praga PC é apenas mais uma face da velha ignorância humana”.
Resumindo: em O Guia Politicamente Incorreto da Filosofia’, Luiz Felipe Pondé busca desbravar a história do politicamente correto, através do pensamento de grandes filósofos, como Nietzsche, Darwin, o escritor Nelson Rodrigues, entre outros. Dividido por temas, com títulos polêmicos, a obra se baseia em conceitos defendidos por grandes filósofos do mundo inteiro para abordar assuntos como capitalismo, religião, mulheres, instintos humanos, preconceito, felicidade e covardia.
Diante de um mundo PC, o impacto do Guia de Ponde é o mesmo que o causado pelo conto de Machado, entre as religiões cristãs (que segundo o autor,correm o risco de virar uma mistura de Hopi-Hari, fanatismo brega e dieta balanceada): incomoda.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
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