CALENDÁRIO MAIA E A PRAIA GRANDE
Enquanto na TV a novidade era Samoa mudando de fuso horário e perdendo a sexta-feira, 30/12, a fim de se alinhar economicamente à China e não mais aos EUA, saiamos de Ribeirão Preto, às dezenove horas, em excursão, no Marco Polo da Rápido D’Oeste, no. 3850, e levamos conosco (minha esposa Lu, meu filho Rod, mais trinta e três pessoas, e eu, guiados pela simpática Rita ) a esperança de muito sol.
Foram cinco dias de chuva, mormaço, calor e brisa suave, revezando-se na realização de nosso sonho de verão, vivido no quarto 305 do Centro de Lazer dos Comerciários do Estado de São Paulo, na divisa entre Cidade Ocian e Vila Mirim, na Praia Grande.
Chegamos ao Centro de Lazer — levados, mais uma vez, pela poesia e pelas mãos de um grande amigo: uma longa história que não caberia nesse espaço —, na madrugada do dia vinte e nove dezembro de 2011, e às oito da manhã, café completo já tomado, e munidos de cadeiras, guarda-sóis, esteiras, óculos escuros, muito bronzeador e protetores solares, deixamos o quarto 305 e invadimos a praia para passar o réveillon.
Mas o tempo, na chegada, estava nublado, com vento frio e grande oferta de “óculos de chuva”.
Linda , a da barraquinha — Kaaba de nossa Meca no litoral sul — e Lucas, seu filho, já nos esperavam com as cervejas, refrigerantes, pastéis, camarões, batidas de maracujá e o ribombar dos primeiros fogos de artifício.
Espaço delimitado e devidamente “sundownizado” , fiz minha visita diária ao monumento à Iemanjá, levando velas e meus agradecimentos por mais um período de férias na praia : Odoiá, minha mãe, salve a Rainha do Mar.
Chegado o momento de o parco sol se pôr — depois de haver sido trazido e levado pela grande quantidade de nuvens no decorrer do dia —compôs-se o êxodo dos brancos avermelhados pelo mormaço, das Gabrielas do litoral, das crianças untadas de protetores solares e enrolando-se nas linhas de pipas, dos idosos cobertos por toalhas, dos alegres jovens em algazarra, rumo ao conforto do Centro de Lazer: sauna, piscina, música, recreações, jogos, cinema.
No quarto , enquanto minha família acompanhava as novelas da Globo — não havia disponível a tela da Band — eu colocava a leitura em dia com o Para o fim da Terra, , livro sobre o Caminho de Santiago de Compostela, do amigo e irmão, João Munhoz Garcia, para depois ler As esganadas, de Jô Soares, nas areias da praia.
Depois de falar, por fone, com nossa filha Giovana, que voltava do frio de Nova York, passamos o réveillon ao lado de centenas de pessoas, pulando sete ondas e oferecendo sete rosas brancas para Janaina, sob uma chuva fina e fria que lavou nossa alma, à luz de fogos que coloriam o céu e o mar, ouvindo/vendo gritos/abraços de boas vindas aos novos 365 dias. Parafraseando Fernando Pessoa : A queima de fogos de Copacabana foi mais bela que a queima de fogos que ocorreu na Praia Grande. Mas a queima de fogos de Copacabana não foi mais bela que a queima de fogos que ocorreu na Praia Grande. Porque a queima de fogos de Copacabana não foi a queima de fogos que ocorreu na minha Praia Grande.
No mais, era dormir, comer, beber, fazer as orações matinais andando com os pés banhados pelas ondas. Essa era a rotina, mas havia sempre mais.
No segundo dia, uma jovem “chamou chuva” riscando vários sóis sorridentes na areia, até que ele veio no quarto dia, o primeiro da contagem regressiva de fim do mundo, segundo o calendário Maia.
Havia o passeio pela feirinha, as tatuagens Henna ( desenhadas por hábeis mãos nas costas do Rod, meu filho) , a compra de lembranças para alguns familiares. Para consumo próprio, trouxemos uma aranha feita artesanalmente de arame pelo artista Agnaldo: bela.arts@hotmail.com. Enquanto adquiríamos a belíssima obra de arte ( alguns trabalhos levam até 15 dias para serem concluídos) ouvimos, pasmados, uma ingênua senhora denominar um fantástico dragão, de cobra, e uma Fênix de …galinha !!!
Além de Iemanjá — minha orixá de cabeça — visitei os espaços onde se encontram os fundamentos de diversos Orixás, rodeados por 16 coqueiros, sob a proteção de suas bandeirolas, aos pés da imagem azulada de oito metros, sobre o espelho d’água, da Rainha do Mar: as esculturas de bronze e cobre, que anteriormente ocupavam o local, foram retiradas por ordem da Prefeitura de Praia Grande, segundo a Mãe de Santo que jogava búzios: uma Cordélia de Jô, jovem , bonita e gorda.
No último dia, uma terça-feira de manhã, o oceano se fez luz e brilhou escaldante, tomando conta de todo o palco-horizonte — céu e mar se confundiam, pincelados com gaivotas e pipas multiformes : nenhuma nuvem no mar, nenhuma onda no céu — sob os aplausos da Serra do Mar que, ao fundo, a tudo assistia.
Na tarde de 3 de janeiro, deixamos o litoral, rumo a Ribeirão Preto, e, em poucos minutos, já estávamos nos deliciando com a beleza natural, e a incrível obra de arte de nossa engenharia que são os caminhos de concreto que rasgam a Mata Atlântica, na Serra do Mar, prontos espiritual e fisicamente para recebermos o que der e vier com o 12/12/12, segundo os Maias.