‘ …temos de trabalhar vigorosamente para criar alternativas para diferentes gostos, tanto àqueles que adoram os esportes quanto aos que amam as artes e a cultura”
Cezar Roberto Leão Granieri – Presidente do Sind-clube
Acabo de receber exemplares de Literatura nos Clubes com a publicação dos vencedores em poesia, crônica e conto nos concursos — Sind-clube / APL – Academia Paulista de Letras — de literatura de 2011, 2012 e 2013.
Minha crônica, As Meninas da Arnaldo, concorrendo em nome do Clube de Regatas Ribeirão Preto, foi classificada em 1º. lugar no concurso de 2011 e encontra-se na página 40 da antologia.
Penso interessante colocar neste espaço o que diz Cezar Roberto Leão Granieri, Diretor Presidente do Sid-clube, da importância da divulgação de nossa cultura nos clubes.
“ Nos clubes sempre houve uma predominância das atividades esportivas, tanto que, ao longo da história, eles se transformaram em verdadeiras escolas de formação de atletas. As diretorias dos clubes empenham-se para criar os meios necessários para a promoção do esporte, com investimentos nas categorias de base, nas escolinhas esportivas, na aquisição de equipamentos, construção de campos, quadras, pistas, piscinas etc., tudo convergindo a criar uma potência esportiva, que se reflete nas conquistas de campeonatos, medalhas olímpicas, destacando o Brasil no cenário esportivo internacional.
A cultura sempre esteve presente nos clubes, inclusive serviu de base de fundação de muitos deles, quando havia o objetivo de preservar a tradição cultural das colônias de imigrantes. Nos clubes o fator cultural tem grande relevância.Contamos atualmente com milhões de associados nos clubes paulistas, de modo que temos de trabalhar vigorosamente para criar alternativas para diferentes gostos, tanto àqueles que adoram os esportes quanto aos que amam as artes e a cultura”.
Segue a crônica premiada.
AS MENINAS DA ARNALDO
“Quando eu te encarei, frente a frente, não vi o meu rosto…”
Caetano Veloso – Sampa
Logo ao amanhecer — quando já passa das sete da manhã — alguma coisa acontece no meu coração veterano, só quando cruza a Tereza Livrini com a Arnaldo Victaliano
Na Livrini moro, e na Arnaldo me demoro.
Arnaldo é a artéria, é a vitalidade própria da juventude que a percorre — percorre, não: desfila — o dia todo: é a rua mais bacana do Médici e Iguatemi.
São centenas de universitárias que sobem e descem a movimentada avenida, apressadas, sozinhas ou em grupos, quase acotovelando-se nas estreitas e malfeitas calçadas.
Arnaldo é a porção de vida que começa faltar aos meus quase sessenta anos.
Arnaldo é o viço, é a energia — que começa a se ausentar de minhas carnes quase sexagenárias — que se espalha pelos quase dois quilômetros, entre a Livrini e a Alfredo Benzoni, percorridos por mim, diariamente, em poucos minutos.
Arnaldo é passarela de morenas , loiras, ruivas. Por ela passam e repassam gordas , magras, belas, feias, fartas, esguias. Os modelos são longos , curtos, leves , soltos, jeans, bermudas, claras , escuras, coloridas, discretas ou ousadas.
Elas seguem falantes, gesticulantes, arrogantes, tímidas, surdas, mudas, ornamentadas, pintadas, ou de caras lavadas.
Elas não têm a imortalidade de Helô Pinheiro passando a caminho do mar, mas eu também não sou Tom nem Vinícius: elas vão para a UNAERP, e eu vou trabalhar.
Na Arnaldo, não existem modelos, não existe o apelo midiático de um Leblon: são todas imortalmente desconhecidas, misturadas à massa confusa, formada por outros transeuntes, automóveis, ônibus e caminhões. Elas são semelhantes à jovem que busca a solidão na história em quadrinhos Umbigo, de Roko, publicada na revista Porrada, número 10.
Há centenas delas, anônimas, mas todas mereceriam um monumento — que poderia ser erguido em qualquer uma das pequenas praças que permeiam a Arnaldo — pela apresentação magistral da qual são intérpretes nesse teatro de vida a céu aberto.
Só é preciso ser, para conseguir ler esse quotidiano poema vital, que tem sempre suas últimas estrofes escritas nos dias que antecedem os períodos de férias.
Em julho, janeiro e fevereiro — mesmo com o Carnaval — a Arnaldo quase morre: metamorfoseia-se numa longa, sinuosa e moribunda serpente que renasce com a volta às aulas.
Mas, como toda peça teatral, a Arnaldo compõe um cenário, a cada dia mais ocupado — ou seria invadido, maculado — por pequenas empresas: lojas, butiques, com bares e lanchonetes ocupados, devida e literalmente, nos finais de semana: uma multidão alegre, bonita e sadia que ocupa calçadas, e até parte da rua.
Mas o mais interessante é perceber que a Livrini não cruza com a Arnaldo: existe uma igreja no meio do caminho.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
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