LI E GOSTEI : CIRANDEIROS DA PRAÇA XV

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PRAÇA XV : UM POMAR CULTURAL

“ A rua, uma aula de esperança ao ar livre”.

Cassiano Ricardo

Quem tiver a feliz oportunidade de ler Cirandeiros da Praça XV, nunca mais circulará indiferente pelo centro de Ribeirão Preto.
Júlio José Chiavenato, jornalista e historiador, fala por meio das orelhas do livro : “ Este livro resgata a história de um grupo que se reunia em torno de uma árvore, de uma mesa de padaria ou mais prosaicamente, nos bancos da Praça XV. As árvores estão lá, capengando. A padaria desmanchou-se no ar. A praça, coitada, não é mais nem sombra do que foi”.
Mas sombras de um passado especial reapareceram para mim — vindas da mesma Praça XV — das páginas de Edson José de Senne, as sombras da Academia Estudantina de Letras: Um grupo de jovens idealistas e vibrantes, todos estudantes de várias escolas ribeirãopretanas, reunia-se na Praça XV de Novembro, invadia a redação de “A Tarde” e cultivava os mais belos valores do espírito e se mantinha coeso no culto à literatura. Foram os precursores da ARL e, até 1947, permaneceram juntos, numa irmandade de poetas, cronistas, contistas, romancistas e músicos, sobretudo altruístas, apaixonados pela vida e pela cultura, cujos nomes devem estar inscritos nos anais deste sodalício. São eles: José Jardim Moreira, Emília Ferreira da Matta, Aparecido Alécio Schiavon, José Wílson Seixas Santos, Renato Martone, Percival Bacci, Edson de Mello, José Paschoal do Rosário, Theresa Dorothéa de Amjda Rego, Saulo Ramos, José Tupinambá, Olívia Alves dos Santos.
Uma história que pretendi imortalizar na letra do Hino da ARL:

Nos jardins da Praça XV
a última flor do Lácio
das mãos de uma primavera
espargiu sementes um dia
carregadas por quimera
e plantadas com amor e alegria.

Nascia assim , Estudantina,
em canteiro , de solo roxo,
de altos sonhos de estudantes,
fonte de luz e energia,
sodalício de brilhantes,
a Ribeirãopretana Academia.

Vinte anos separam as duas histórias.
Mais de setenta anos nos distanciam delas.
Mas graças à memória poética , “tão formidável que inventa o que foi real” , voltei ao meu tempo de bancos escolares, no Otoniel Mota, quando eu deixava as aulas e dava um passeio pela Praça XV, principalmente a praça do varal de Leopoldo Lima.
Era um tempo de Filó, ainda menino pobre mas sempre altivo, que conheci pelas ruas da Vila Seixas.
Era um tempo de Vaccarini em plena forma— tempo sem melinconia, como costumava dizer — e que hoje estaria completando 100 anos de existência.
Era um tempo dos ainda jovens, hoje membros da ARL , Dr Sérgio Roxo e do saudoso Dr Seixas Santos.
Era um tempo de A Banda e Disparada.
Quase todos personagens encantados, como diria o velho Rosa.
Enfim, utilizando as palavras de Chiavenato: “ Cirandeiros conta os momentos mágicos na vida de gente ligada pela amizade boêmia, que se deslumbrava com a descoberta e a vivência do mundo. Não é biografia de ninguém, mas a história resgatada pela lente amorosa da poesia dos que se encantaram…”.
E fica a certeza, minha e do autor, de que : “ …enquanto existirem as figueiras com seus pássaros e as cigarras do verão; enquanto perdurar o balé de águas sobrea fonte; enquanto persistirem resquícios daqueles anos doces e rebeldes; enquanto houve memória dos cirandeiros; há de haver a perspectiva do retorno…numa primavera qualquer da eternidade”.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

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