DE ARGILA E MÁRMORE
“ O novo filme de Bruno Nuytten sobre a escultora francesa que estudou com Rodin, e se transformou em sua amante, tem um espírito tempestuoso e romântico”
Washington Post
Muita argila, roubada nos arredores de Paris.
Muitos blocos de mármore.
E vidas nascidas com o divino dom de transformar argila e mármore em imortais obras de arte.
Por cento e cinqüenta minutos, em Camille Claudel, filme do premiado diretor Bruno Nuytten — um dos melhores cineastas franceses, notável por sua colaboração com muitos cineastas pendentes. Foi duas vezes premiado como Melhor Diretor de Fotografia: Cesars para Barocco (1976) e Tchao Pantin (1983) — convivemos com momentos de criação e destruição: criação de peças até hoje admiradas em museus do mundo todo, e destruição de vidas.
Ao fim de mais de duas horas de imagens densas, modelos nus, ruas cobertas de neve, becos vazios e escuros, degradação humana, interesses escusos, tudo ao som da música de Claude Debussy, fica difícil não ficarmos com a sensação de que acabamos de viver por instantes na Europa do século XIX.
Resumindo : em 1885, na cidade de Paris, a jovem escultora Camille Claudel (Isabelle Adjani), irmã do escritor Paul Claudel (Laurent Grévill), entusiasma e impressiona o famoso escultor Auguste Rodin (Gérard Depardieu). Porém, ao tornar-se aprendiz, e depois assistente de Rodin — colaborará com ele na execução das Portas do Inferno (Les Portes de l’Enfer) e do monumento Os Burgueses de Calais (Les Bourgeois de Calais) — , entra em conflito com sua família. Para piorar ainda mais sua situação, ela se torna amante de seu mestre e, embora tenha amigos do porte do compositor Claude Debussy, cai em desgraça junto à sociedade parisiense. Após quinze anos de seu tortuoso relacionamento, Camille rompe seu romance e mergulha cada vez mais na solidão e na loucura — ela instala-se no número 19 do hotel Quai Bourbon e continua sua busca artística em grande solidão, pois ama loucamente Rodin, mas, ao mesmo tempo, o odeia por ele tê-la abandonado: ela se entregou a esse homem de corpo e alma e em troca só teve ingratidão e abandono — e, por iniciativa de seu irmão mais novo, é internada em um manicômio.
E o mais terrível — não consta do filme — é saber que Camille Claudel acabou internada nesse manicômio, de Ville-Evrard, e que, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914) foi transferida para Villeneuve-lès-Avignon onde morreu, em 19 de outubro de 1943, aos 79 anos, após trinta anos de internação e desespero, passando todo esse tempo amarrada e sedada.
Camille Claudel, foi o primeiro trabalho de Bruno Nuytten como diretor e roteirista, com o qual ganhou o prêmio César de melhor filme em 1989. O filme e foi co-produzido por Isabelle Adjani, com quem teve um filho, Barnabé. Adjani ganhou o Urso de Prata de Melhor Atriz no Festival de Cinema Internacional de Berlim 39 por seu papel no filme.
Enfim, uma história feita de argila e mármore, Camille e Rodin, discípula e professor: tão imortais quanto as suas criações.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
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