LI E GOSTEI: A CULPA É DAS ESTRELAS

GUS E HAZEL: UM ROMEU E JULIETA

“Descobri que sou um ser finito”

Osmar Prado: após superar um câncer

Durante duas semanas convivi com a dura realidade que é enfrentar uma luta contra o câncer: acabo de ler A culpa é das estrelas, de John Green.
Ler, é ver com os olhos de outras pessoas, é sentir com a alma e o coração delas.
A grande aceitação desse romance, principalmente por parte dos jovens, parece-me ser o amor eterno entre Gus e Hazel, um Romeu e Julieta separados não pela divergência entre suas famílias —Montecchio e Capuleto — mas sim pelo câncer: Hazel com câncer na tireóide e pulmões e Gus, nos ossos.
Enquanto Romeu fica mais versado no sonetos à medida que a trama segue, o amor de Hazel, Augustus — nome do primeiro Imperador do Império Romano — Waters , vai se transformando em Gus, um jovem ameaçado de extinção.
Nesse processo são muitas as reflexões filosóficas e a busca dos personagens por uma explicação convincente para a existência de uma doença tão terrível: o pai de Hazel acredita que tudo acontece porque “o universo quer ser notado”.
Pacientes terminais, o tempo passa a ter importância fundamental e a discussão de sua infinitude é assunto que leva a conceitos Matemáticos — Paradoxo do Hotel de Hilbert — e às teorias de Cantor sobre conjuntos.
A leitura da saga desses dois jovens me fez voltar à década de setenta quando um estudante, no Colégio Metodista de Ribeirão Preto, procurava por mim, em quase todos os intervalos, para conversar sobre Filosofia. Infelizmente, somente depois de saber de seu trágico fim — enforcou-se devido seu estado terminal —, compreendi que a busca pela Filosofia era, na realidade, a busca de uma resposta diante do fim de sua história que se aproximava tão prematuramente.
A viagem de Hazel e Gus, que os leva de Indianápolis – Indiana até Amsterdã – Holanda, é na verdade não a busca do final não escrito do livro Uma aflição imperial , de Peter Van Houten, mas uma forma de tentar saber — por meio do futuro reservado pelo escritor holandês para Anna e o Homem das Tulipas Holandês — qual será seu próprio futuro, e o de Gus, diante do câncer que os devora.
Sobre a obra, Markus Zusak, — autor da belíssima obra, A menina que roubava livros — , declara, na capa, aos leitores: Você vai rir, vai chorar, e ainda vai querer mais.
Não será o meu caso: não quero mais. Li o livro por ser um best-seller e, como educador, tenho a necessidade de conhecer, cada vez mais, o que estão lendo os jovens, mas minha leitura preferencial é, por exemplo , Zelota, de Reza Aslan, Holocausto brasileiro, de Daniela Arbex, Trem noturno para Lisboa de Pascal Mercier, que aguardam sobre minha escrivaninha para serem devida e oportunamente devorados.
A culpa é das estrelas é, como as obras de Nicholas Sparks (Querido JohnCAPA-A-CULPA-E-DAS-ESTRELAS, e outras), uma “História dolorosamente bela “ – School Library Journal, “Um bom exemplo de por que tantos adultos se voltam para a literatura jovem buscando o divertimento e o conforto que antes encontravam na ficção convencional” – Time.
Enfim, mesmo não concordando com Hazel Grace que “ Alguns infinitos são maiores que outros… Há dias, muitos deles, em que fico zangada com o tamanho do meu conjunto ilimitado. Eu queria mais números do que provavelmente vou ter” , impotente, ser finito que sou, devo concordar com o título do livro: não sendo possível encontrarmos respostas e culpados pela alegria e a tragédia que é viver e amar, só nos resta culpar as estrelas.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com,.br

ARTIGOS, Colégio Metodista, Li e gostei, LITERATURA