ENTRE A ESPADA E O QUINTO MANDAMENTO.

“Honra o teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá.”

5º. Mandamento

Dâmocles, para quem não sabe, é o protagonista de uma anedota que figurou originalmente na história perdida da Sicília. Cícero pode tê-la lido em Diodoro Sículo, e resolveu fazer uso dela em suas Tusculan Disputationes.
A espada de Dâmocles, por sua vez, é uma alusão frequentemente usada para remeter a qualquer sentimento de danação iminente.
Quanto ao quinto mandamento penso não haver necessidade de maiores esclarecimentos a respeito.
Isso posto, volto meu pensamento aos meus idosos pais: ele com 91 e ela com 86 anos que, tendo sido recebidos por Gislene — que poderia ser chamada de Beatriz, a do Paraíso de Dante, — agora se encontram bem instalados, sob a proteção de outros anjos terrestres da Casa da Amizade, graças à intercessão providencial de um arcanjo de nome Wladimir: que poderia muito bem ser Waldimirel.
Após mais de quatro anos obedecendo aos pedidos de meu pai para que ele não fosse retirado de sua residência — onde viveu por mais de cinqüenta anos sem aceitar a presença nem de acompanhante ou dos filhos — minha irmã e eu, que sempre obedecemos a Lei de Deus, apesar disso nos custar vinte e quatro horas por dia com uma sensação de Espada de Dâmocles sobre nossas cabeças:frio percorrendo o corpo dos pés à cabeça a cada tocar do telefone, celular dia e noite ligado esperando sermos chamado pela Medicar e termos que nos deslocar com urgência para um hospital, ansiedade a cada correspondência que chegava porque ela poderia trazer uma intimação de algum poder público nos acusando de abandono de idosos – apesar da geladeira repleta de frutas, refrigerantes, sucos, leite, sopa, doces e uma farmácia improvisada com todo o tipo de remédios e uma tabela com os horários a serem administrados; resolvemos repensar nossos conceitos.
Depois de, em 2014, havermos passado duas semanas no hospital com meu pai que teve um corte profundo na cabeça devido a dois tombos consecutivos – além de vários ferimentos em ambos os braços do casal octogenário, que exigia curativos constantes – e tendo minha mãe, que usa andador, precisado, com urgância, de um acompanhante em casa, ficamos desesperados e resolvemos desobedecer o quinto mandamento, e cuidar da segurança de nossos pais.
Começou aí uma maratona desesperada em busca de socorro: busquei por amigos/irmãos na Igreja, na Maçonaria, na Curadoria e Delegacia do Idoso, na Assistência Social da Prefeitura, no Ministério Público por meio de um Juiz amigo/irmão, na política, no meu trabalho, no círculo de amizades de minha irmã e nas orações aos nossos Santos protetores.
Batemos em portas e portões, andamos por estradas, caminhos e corredores, imploramos por apoio junto a diversos corações.

Nessa caminhada em que muitos silêncios angustiantes sucederam palavras de apoio, encontramos um “Sapinho” — Euripedes, assessor do Vereador e meu irmão, Rodrigo Simões — que para nós, num dos momentos mais difíceis, virou Príncipe quando nos víamos quase sem saída.
Maria, minha mãe, atendeu às nossas orações e passou na frente, abriu os portões da Casa da Amizade, abriu corações de seus dirigentes.
O Grande Arquiteto do Universo demonstrou, mais uma vez em nossas vidas, que para Ele não existe o impossível, e que essas experiências dolorosas só servem para enriquecer existências e nos permitirem entender mais de perto o sofrimento do próximo.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

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