LI E GOSTEI: ADELAIDE – A HISTÓRIA DA PARTEIRA DE 12.630 BEBÊS.

AS MÃOS DE ADELAIDE

Foi especial a manhã do dia 12 de julho de 2015 quando pude receber na biblioteca do Clube Regatas o escritor e neto de Adelaide, Nicola Tornatore.
Foi especial porque Nicola possibilitou-me ter nas mãos o Caderno de Partos registrados pela parteira Adelaide de 1921 a 1966.
Também o momento foi especial porque meu pai, nascido pelas mãos de Adelaidinha, na Santa Casa de Misericórdia, acabava de falecer no mesmo local, no dia 7 de julho: 91 anos separavam o Registro de Nascimento do Atestado de Óbito do homem que me deu a vida.
Na oportunidade folheei, extasiado, as anotações feitas por ela, a lápis ou caneta, numa letra legível e arredondada, criando frases curtas e registrando cada um dos partos realizados: e a emoção vinha do fato de saber que as mesmas mãos que grafaram aquelas linhas, foram as mãos que me receberam nesse mundo há 65 anos: as mãos de Adelaide.
“Entre todas as outras as tuas mãos, Eurídice, ‘Brancas mãos pedindo asas, ternura e amor’, mas não dizem mais, nem dirão o que um dia eu disse:
na roleta onde os homens são eternos meninos gira ainda a dor, velhas rimas apitam sinos, navios que jamais partiram do cais-terror!”.
As mãos de Adelaide talvez não tenham, fisicamente, se igualado à beleza das mãos de Eurídice, mas com certeza eram mais abençoadas.
Eram abençoadas porque foram as primeiras mãos apresentadas a doze mil seiscentos e trinta vidas humanas.
Dentre as crianças que tiveram o privilégio de virem ao mundo pelas mãos de Adelaide estão meu pai, Claudio Tórtoro, em 1923, eu, em 1949, e minha esposa, Lucia Aparecida Degobbi Tórtoro em 1955: as mãos de Adelaidinha deram as boas vindas a todos nós quando de nossa chegada a esse Vale de Lágrimas, sem sabermos de onde viemos e para onde iremos.
Aqui nos receberam as mãos de Mãe Ade.
Do lado de lá, no Vale das Dúvidas — como ela costumava chamar o local aonde continuaria a vida após a morte terrena — quais serão as mãos que nos receberão ?
Mas o importante é que o livro “Adelaide” nasceu para contar essa épica história.
E ele tem três pais – o autor, neto biológico, e os netos por adoção Renato Castanhari e Érica Amêndola.
Na verdade, Renato e Érica que adotaram a Adelaidinha Parteira e conseguiram, em menos de dois meses, trazer de volta uma linda história de vida que o tempo havia deixado para trás.
Adelaide: Um metro e meio de altura, 36 quilos, sapatos nº 31. De longe, parecia uma criança. Sua aparência frágil era tamanha que médicos da Santa Casa a apelidaram de “Dona Bibelô”.
A pequenina Adelaide, nascida em Ribeirão Preto em 1898, foi, no entanto, uma gigante: faleceu em 1993.

No livro “Adelaide – A história da parteira de 12.630 bebês”, o jornalista Nicola Tornatore compartilha com os descendentes dos portugueses João de Almeida e Joaquina Ferreira Estima e com Ribeirão Preto a história de uma mocinha muito vivaz e curiosa, testemunha privilegiada de quase um século no Eldorado que os pais dela vieram buscar da distante Europa.
Parabéns pela publicação que será referência para reconstruir parte da história de Ribeirão Preto e das pessoas, mais de doze mil, que nasceram sob os cuidados da parteira, Adelaide!
Parabéns ao artista, criador da capa e do projeto gráfico, Renato Castanhari, da Editora Corpo 12.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

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