PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DOS GATOS

GATOSPrimeiro: Zoonose é a designação para toda doença infecciosa ou parasitária transmitida por animais vertebrados (providos de coluna vertebral e, em geral, de dois pares de membros: peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos) ao homem e vice-versa. São diversos os microorganismos e os agentes que podem causar doenças: bactérias, vírus, fungos, helmintos, rickéttsias (gênero de microrganismo que se situam entre bactérias e vírus, parasitas que vivem no interior das células no homem e nos animais) etc. Hoje em dia, cerca de cem doenças são identificadas como zoonose.
O pêlo, a saliva, as patas, a urina e as fezes de animais, como gato, cachorro, roedores e pássaros, podem conter diversos microorganismos capazes de ocasionar doenças em crianças, jovens, pessoas adultas e idosas. A precaução é tomar alguns cuidados, tais como vacinação, combate de verminose e consultas periódicas ao veterinário, mesmo que o animal não apresente nenhum sinal ou sintoma.
Segundo: Mais de dois milhões de gatos poderão ser mortos pelo governo da Austrália até 2020. A guerra aos animais começou por preocupação com a vida selvagem por lá, já que das 29 espécies de mamíferos que foram extintas em território australiano nos últimos 200 anos, 28 sumiram por causa dos gatos.
“É importante enfatizar que não odiamos os gatos. No entanto, não podemos mais tolerar o mal que estão fazendo para a vida selvagem do país. Mais de 120 espécies nativas estão em risco de extinção por causa dos gatos”, explica Gregory Andrews, autoridade do governo da Austrália responsável por proteger as espécies ameaçadas.
Terceiro: Você, meu caro leitor, algum dia tentou prevenir doenças transmitidas por gatos e ao mesmo tempo salvar-lhes a vida ?
Não ?
Então tente, e você será levado à loucura pelos órgãos que deveriam cuidar desses animais, em especial, os gatos.
Aconteceu comigo.
De repente senti-me na Cidade dos Gatos: uma história contada por Haruki Murakami, no livro 1Q84: “Mas na verdade, aquela era uma cidade de gatos. Ao anoitecer, muitos atravessavam a ponde de pedra, de volta para a cidade. Gatos de vários tipos e cores. Eram bem maiores que um gato normal, mas não havia dúvidas de que eram gatos . Os gatos agiam com a maior naturalidade: alguns abriam as lojas enquanto outros começavam a trabalhar na prefeitura, ocupando suas mesas de trabalho. Eles faziam compras nas lojas e comiam nos restaurantes locais. Os gatos tomavam cerveja no bar e cantavam e outros dançavam ao compasso da música”.
Explico.
Segundo assessores de vereadores, a quem pedi socorro para retirar com vida e saudáveis alguns gatinhos que estão em lugar inadequado, não existe ONG e nem outro órgão qualquer, na cidade de Ribeirão Preto, “protetor” dos animais, que possam me ajudar.
Consultada a Coordenadoria do Bem Estar Animal, a resposta foi que eles poderiam esterilizar os animais ou cuidar da saúde deles caso estivessem doentes, mas, feito o trabalho, os mesmo seriam devolvidos ao local de origem.
Percebi que gatos saudáveis são como os gatos de 1Q84: mesmo podendo gerar zoonoses em humanos, todos temos os mesmos direitos inalienáveis — gatos e homens — e, portanto, os gatos não podem ser retirados do local que escolheram para ficar, usufruindo do direito de ir e vir.
O interessante é que nenhum órgão “protetor” dos animais — apesar de receberem verbas específicas para isso e até utilizarem a pseudo-proteção em campanhas políticas — nada podem fazer para resolução de problemas — agem como Pilatos lavando as mãos — mas se enchem de indignação quando pessoas de índole duvidosa — lembrando o caso da Austrália citado nesse artigo — resolvem promover um morticínio dos bichinhos ou largá-los à própria sorte no Alto de São Bento, aos pés do Cristo.
Enfim, são assim algumas instituições que sobrevivem, e bem, num mundo do “faz-de-conta”.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

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