LI E GOSTEI: O DEMÔNIO DO MEIO-DIA

CAPA O DEMONIO DO MEIO-DIA

VOLTEI MEUS OLHOS PARA AS ESTRELAS

“Tudo passa —sofrimento, dor, sangue, fome, peste. A espada também passará, mas as estrelas ainda permanecerão quando as sombras de nossa presença e nosso feitos se tiverem desvanecido da Terra. Não há homem que não saiba disso. Por que então não voltamos nossos olhos para as estrelas? Por quê?

Mikhail Bulgakov, O exército branco

Para suportar um dos momentos mais difíceis de minha vida, voltei meus olhos para Deus, para as estrelas, para santos, para mentores espirituais, para os livros, para meus textos.
Como Graham Greene pensei: “Às vezes cogito como é que todos os que não escrevem, não compõem ou não pintam conseguem escapar da loucura, da melancolia, do pânico inerente à condição humana”.
Preocupado com uma possível depressão, busquei na literatura o que de melhor e mais completo eu poderia ler sobre depressão: quase 600 páginas de um excelente tratado sobre o assunto.
E já no capítulo inicial de O Demônio do Meio-dia – uma anatomia da depressão, Andrew Solomon diz que: “Quando estão bem, certas pessoas amam a si mesmas, algumas amam a outros, há quem ame o trabalho e quem ame Deus: qualquer uma dessas paixões pode oferecer o sentido vital de propósito, que é o oposto da depressão”.
Vi que só não caí numa depressão profunda porque amei, e confiei na bondade divina apesar de que, a todo momento, a consciência da transitoriedade e da limitação de meu poder sobre as coisas e acontecimentos me deixava com uma depressão leve, proporcional às circunstâncias que me cercavam.
Valorizei a vida do meu filho, mesmo que as perdas fossem, aparentemente, irreparáveis.
Resisti aos remédios recomendados pelos médicos que acompanharam o momento difícil para toda minha família, atravessei a ameaça de depressão com minhas próprias pernas.
Todas as manhãs eu acordava, agradecia ao Senhor por estar vivo e com saúde para continuar uma luta que parecia não ter fim, mas sempre com aquela dor, uma dor na alma que atingia os lugares mais profundos do meu ser, e então eu me lembrava da expressão russa: “Se você acorda sem sentir nenhuma dor, é porque está morto”: mas era muito grande aquela dor.
Solomon me ajudou muito porque partindo de sua própria batalha contra a depressão, ele constrói um retrato monumental da doença que assola nossos tempos.
Lançado em 2000, O Demônio do Meio-Dia continua sendo uma referência sobre a depressão, para leigos e especialistas. Com rara humanidade, sabedoria e erudição, o premiado autor Andrew Solomon convida o leitor a uma jornada sem precedentes pelos meandros de um dos temas mais espinhosos e complexos de nossos dias.
Entremeando o relato de sua própria batalha contra a doença com o depoimento de vítimas da depressão e a opinião de especialistas, Solomon desconstrói mitos, explora questões éticas e morais, descreve as medicações disponíveis, a eficácia de tratamentos alternativos e o impacto que a depressão tem nas várias populações demográficas (sejam crianças, homossexuais ou os habitantes da Groenlândia).
No epílogo inédito escrito exclusivamente para a nova edição brasileira, conhecemos o que aconteceu com Solomon, com os entrevistados e com os tratamentos da depressão desde a publicação da obra. A inteligência, a curiosidade e a empatia do autor nos permitem conhecer não só as doenças mentais, mas a profundidade da experiência humana.
E agora, passado o temporal, busco seguir o sistema formulado por Phaly Nuon— cambojana que criou um centro de psicoterapia usando a medicina tradicional khmer : busco seguir minha vida esquecendo o que passou, trabalhando muito como sempre e amando minha família.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

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