LI E GOSTEI: CONTOS, POEMAS E ENCANTOS

O PASSADO SEMPRE MANDA LEMBRANÇAS

“Tudo passou: o encanto, o amor, a glória… A história desta casa abandonada ainda é mais triste do que a minha história”

Filgueiras Lima

Na minha obra fotográfica, junto ao Grupo Amigos da Fotografia, tenho feito, ao lado de Elza Rossato, um trabalho de preservação do patrimônio histórico de Ribeirão Preto, juntando, aos meus versos, fotos de dezenas de fotógrafos.
O encanto de prédios antigos vem, precisamente, de sua “humanidade”, já que, tal como o comum dos mortais, com o passar dos anos essas casas vão-se deteriorando cada vez mais.
O abandono de edifícios e cidades é, muitas vezes, encarado de forma triste e com lamentos por anos a fio. Mas a melancolia também carrega consigo uma beleza única, especialmente vista em construções que despertam a curiosidade e o olhar.
E talvez por isso Marlene Cerviglieri, uma mulher culta e sensível, usou com inteligência essa mágica e beleza única dos casarões e os utilizou em alguns de seus interessantes contos no livro “Contos, poemas e encantos”.
Pois vejamos:
No conto,”A casa Morta”: “Exercia um fascínio sobre todos nós a enorme casa fechada. Havia histórias mil a respeito, e cada vez mais mistério”.
No conto, “Casarão”: “E, hoje, quando o casarão está sendo demolido, sinto uma grande dor no coração, tinha um imenso amor por este lugar, minhas lembranças…”.
No conto , “A casa que falava”: “ Fui me apaixonando pela casa, me aborrecia ver o jardim sendo engolido pelas ervas daninhas, a poeira nas janelas. A casa escura me parecia tão triste!”.
No conto, “A moça na janela”: “A casa bem antiga, com suas janelas vitorianas, ainda sustentava a beleza de muitos anos atrás”.
E no conto, “Atrás do muro”, fechando a sequência de 14 contos curtos: “E lá na antiga casa, o velho, com olhar perdido, jogava para o alto vazio o que existia dentro dele, toda a sua perversidade”.
Enfim, os velhos casarões são instigantes e apaixonantes, para mim e para Marlene, porque sempre guardam, como ela registra em seus versos no poema “As marcas na parede” — um dos vinte e um poemas do livro: “Ainda estão lá (sempre estarão lá) , as marcas na parede”.
Em resumo, Marlene Cerviglieri — como a grande escritora, e minha amiga Ely Vieitez Lisboa afirma no prólogo da obra — no livro “Contos, Poemas e Encantos, lançado em 2016 durante a 17ª. Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto, dá lições preciosas da valorização dos sonhos, que são vida. Sua sensibilidade captou liricamente, nos poemas, uma bela faceta da função catártica da Literatura, e, nos contos, criou tramas interessantes, onomástica pitoresca, algumas com temas sequentes, outras divididas em partes, como pequenos capítulos, uns finais abertos, histórias românticas de amores proibidos, mistérios não solucionados. Realmente, escrever, vasculhar seus porões abissais enriquece, é algo que dá vida”.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

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