MINHA CASA NÃO É DE IRENE
“Na casa de Irene, de noite e de dia, tem gente que chega, tem gente que sai, na casa de Irene tem, enfim, alegria, na casa de Irene, a tristeza se vai”.
Sempre me encantou a letra de A Casa D’Irene, canção imortal interpretada por Nico Fidenco e também por Agnaldo Timóteo.
Mas minha casa nunca será de Irene.
Acredito que há uma casa espiritual, etérea, que reside silenciosamente dentro e fora das paredes da construção física. Essa casa espiritual é a alma da estrutura, um reflexo do espaço que habita e das energias que nela fluem.
Ambas, a casa física e a etérea, coexistem em um equilíbrio delicado, onde o palpável e o intangível se encontram. A harmonia entre elas é essencial para a paz do lar, pois a casa espiritual molda o ambiente, preenchendo cada canto com vibrações sutis que afetam o humor e a energia dos que ali vivem. Assim, o espaço físico não é apenas um abrigo, mas também um templo onde o espírito da casa se manifesta, criando um santuário de tranquilidade e equilíbrio.
Minha casa é o meu templo, um espaço sagrado onde encontro paz e tranqüilidade para recuperar minhas energias após um dia de trabalho.
Gosto de acender uma vareta de incenso, para manter a serenidade desse lugar: por isso não gosto de receber visitas ou ser hospedado por outras pessoas.
Para mim, a intimidade e o silêncio são preciosos, e a presença de alguém pode romper essa harmonia que tanto valorizo. Minha casa é um refúgio pessoal, um lugar onde recarrego minhas energias e me conecto comigo mesmo. Compartilhar esse espaço físico, para mim, significa abrir mão de uma parte importante da minha essência.
Enfim, visitas mexem profundamente com a energia da minha casa e isso me incomoda.
Cada pessoa carrega consigo uma vibração única, e quando essa energia se mistura com a do meu lar, sinto um desconforto imediato. O espaço onde vivo é cuidadosamente equilibrado para manter minha paz e harmonia, e qualquer presença externa perturba essa sintonia.
Também, ao entrar na casa de alguém, sou sensível à energia daquele ambiente: sinto uma carga estranha que me deixa inquieto.
Por isso, prefiro evitar tanto receber visitas quanto me hospedar na casa de outros. Manter minha própria energia intacta é essencial para o meu bem-estar.
Na Bíblia há várias histórias onde a presença de visitantes ou forasteiros, mesmo que tenham sido Anjos ou Magos , trouxeram mudanças significativas ao ambiente de uma casa, geralmente com consequências espirituais ou emocionais.
Pois vejamos, para citar dois exemplos:
Quando dois anjos visitaram a casa de Ló em Sodoma, a presença deles desencadeou uma série de eventos dramáticos. Os homens da cidade tentaram invadir a casa para fazer mal aos visitantes, e Ló se viu em uma situação extremamente tensa e perigosa.
Também na chegada dos Magos a Jerusalém para visitar o recém-nascido Jesus, ela causou uma grande agitação. Quando eles consultaram o rei Herodes, isso gerou uma atmosfera de paranoia e medo no palácio, resultando em uma ordem para matar todos os meninos em Belém, uma decisão que trouxe um grande luto para muitas famílias.
Logo, deve ser como diz a letra de Dança do Quadrado, de Iran Costa:
“Cada um no seu quadrado”…mas não há regra sem exceção.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
Ex-presidente da ARL – Academia Ribeirãopretana de Letras
www.tortoro.com.br
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